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O devir-arte da mercadoria

In blog on dezembro 12, 2009 at 20:42

Para além dos discursos que defendem que há uma arte vendida, deixando na sombra – sem muitas vezes conseguir mostrá-lo – que há uma “arte não-vendida”, é preciso pensar que talvez exista uma afinidade essencial entre a natureza do objeto artístico e da mercadoria. Isso explica não só porque a arte é tão facilmente mercantilizável, mas também porque cada vez mais nós temos a impressão que é a vida cotidiana colonizada pelo capital que se torna mais e mais “estética”.

O que significa transformar um objeto banal em um objeto artístico? Antes de qualquer outra coisa, é dissolver o seu uso comum e, em última instância, dissolver o seu uso ou tornar o uso o valor menos importante da coisa. Jamais respondemos para que serve um objeto de arte. Ele, ao contrário, nos confronta com um tipo de abertura que apenas de modo perverso conseguimos restaurar dentro de um uso qualquer. E realmente é como a perversão sexual: é preciso desviar o uso natural dos objetos para torna-los artísticos. Só podemos dizer que uma intervenção urbana é de algum modo artística, porque ela subverte o uso cotidiano do espaço. Ao mesmo tempo, a esperança é que ela se torne política quando o que determina o uso do espaço urbano é o poder.

O que significa transformar um objeto banal em mercadoria? Significa também dissolver o seu uso e fazer deste o valor menos determinante da coisa. Isso quer dizer que o objeto guarda propriedades para além da nossa apreensão empírica (“sutilezas metafísicas”, diria Marx). Não determinamos o que é o objeto na nossa relação direta com ele, mas todas as suas propriedades são determinadas por seu valor de troca. O uso é completamente submetido às leis de mercado, ao imperativo de circulação de mercadorias, por isso a relação de estranhamento tanto do trabalhador quanto do consumidor frente às coisas que povoam e controlam o seu mundo. É preciso no entanto instaurar uma mobilidade ilimitada no mundo dos objetos para que eles se submetam pacificamente às leis do capital. Eles podem ser usados para qualquer coisa. Há um verdadeiro espírito estético no capitalismo mais do que um espírito protestante.

Um exemplo disso é a possibilidade de reintegração daquilo que constrange a sociedade dentro da sua própria maquinaria. De camisas do Che Guevara até linha de maquiagens inspirada em viciados só são possíveis quando os objetos habitam um contexto social onde há uma mobilidade ilimitada de sentido. Então: deixem passar as simulações infinitas!

  1. […] vida como algo superior e elevado, então parece óbvio por qual razão  ela se apresenta como a mercadoria ideal. Não é estranho que se queira oferece-la a todos com tanto […]

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