Performance apresentada no 9° Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, 2008.
Para alguns “Esperando Debord” foram os 15 minutos mais entediantes e onde nada aconteceu, para nós do [conjunto vazio] a constatação que Piero Manzoni estava correto, mesmo um cocô enlatado é consumido com gosto se isso for chamado de arte!
SINOPSE:
“Esperando Debord” é uma performance conceitual que busca um confronto direto com o espectador. Inspirada no filme “Uivos para Sade”, de Guy Ernest Debord, a performance trata da fragmentação entre espetáculo e vida e faz uma crítica (conscientemente contraditória) à arte, temas com os quais Debord já lidava em seus outros filmes e textos.
Não há nenhum discurso a ser feito, a arte está morta e cheira mal.
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Crítica da jornalista Soraya Belusi (O TEMPO):
“Também há espaço para o questionamento e a reflexão no Cenas Curtas. Claro que a platéia não parece ter gostado muito de encarar, olho no olho, o ator, sem fala e sem ação aparente em cena. Que fique claro: não foi inocência do ator ou falta de saber o que fazer, mas, sim, um enfrentamento consciente entre o conceito que ele tinha a defender e o que a platéia esperava ver. Ao construir um jogo intitulado “Esperando Debord”, Paulo reúne a idéia do que representa “Esperando Godot” com as teorias de Guy Ernest Debord, sobre a espetacularização até da própria arte. É o próprio Debord, em fotografia, que está ao lado de Paulo na cena. O que as pessoas estavam ali esperando: que ele falasse alguma coisa? Que realizasse alguma ação? Que preenchesse o espaço com algo? Pois era tudo que o ator não iria fazer, questionando até mesmo o que caracteriza a arte teatral. É curioso pensar a tamanha facilidade com a qual as pessoas, digo platéia, interferem na cena: falaram, xingaram, pediram para comprar cerveja, fizeram até chacota. Talvez seja exatamente isso o que o ator queria, mas, ao mesmo tempo, “Esperando Debord” não era uma cena como qualquer outra apresentada no evento? Estas são apenas perguntas… A opção do Conjunto Vazio, que idealizou acena, não foi apenas falar sobre o nada, mas, sim, colocar a ausência em cena. “
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PANFLETO/QUESTIONÁRIO DISTRIBUIDO AO PÚBLICO
PARA ENTENDER “ESPERANDO DEBORD”
(OU QUANDO O TRABALHO É PRETENSIOSO E INTELECTUALÓIDE)
– O que é a Arte?
(marque a melhor opção)
[ ] “Silêncio”.
[ ] A Arte está morta.
[ ] A Arte deveria estar morta.
[ ] Ótimo subterfúgio e fonte de renda para críticos pedantes.
[ ] Pagar mais de R$ 10 para ver essa porcaria.
[ ] Conversa de desocupado.
[ ] Por que não vamos embora? (esperamos Debord.)
[ ] Falar de arte é como transar com uma cadeira de plástico.
[ ] Juízo de valor, só isso.
[ ] Um bando de moleques brincando com a minha cara.
[ ] Ela fede e isso basta para compreendê-la.
[ ] Só aparece na decadência da vida cotidiana.
[ ] A vedete da sociedade espetacular.
[ ] Esse panfleto é uma GRANDE obra de arte!
[ ] Todas as anteriores.
[ ] Nenhuma das anteriores.
[ ] Volte a pergunta: eis a resposta.
“ Vladimir: Então, devemos partir?
Estragon: Sim, vamos.
Eles não se movem.”
Isso não é Beckett
