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O que fazer quando o capitalismo é muito mais divertido e estético do que a arte?

In blog on abril 15, 2011 at 12:50

Quando eramos novos acreditavamos que fazer arte, criar e expressar nossas idéias era por si só revolucionário. Dizíamos que ter uma banda, montar um coletivo, fazer fanzines, etc. era o caminho para sermos mais autênticos,  coerentes com os nossos desejos e uma forma para combater o status quo dominante. Nossos ideais e ações tinham sempre como premissa a festa e o estético, isso servia para afastar todo o rancor, seriedade e postura militante que encarávamos na “velha esquerda”, ortodoxa e caduca.

Não que agora estejamos velhos ou renegando tais práticas (e muito menos querendo deslegitimar quem ainda crê e realiza tais posturas), trata-se aqui de ser coerente em tentar levar a cabo a crítica que propomos a partir do problema que se apresenta,  mesmo que seja necessário colocar em xeque e até abandonar nossas velhas e entranhadas prerrogativas.

Talvez a questão central: “O que fazer quando o capitalismo é muito mais divertido e estético que a própria Arte?”  não possa ser respondida, mas tampouco poderá ser evitada por aqueles que acreditam que lidar com o estético pode carregar potencias questionadoras e emancipatórias.

Grande parte daqueles  que são atravessados por esses problemas (artistas engajados, artistas políticos, artivistas  ou outro nome qualquer que queiram dar) respondem a questão tentando conciliar um fazer crítico com o estético sem de fato se atentar que em nossa época, as condições para a criação de relações anticapitalistas, criativas, divertidas e rizomáticas nunca foram tão propícias e estimuladas. Estaríamos então simplesmente encarcerados no próprio ciclo de produção que acreditávamos combater?

"Se alguém pensa que Hakim Bey é subversivo é porque ainda não conheceu os publicitários da Volkswagen"

Nessas configurações nos parece evidente que o problema do capitalismo no futuro será a utilização do tempo livre.  O artista aparecerá então, não mais como um pária ou crítico (como querem alguns), mas como um organizador dos  lazeres, cabendo a ele propor eventos e situações (qualquer um que já visitou uma loja da Apple sabe que o vendedor, quase sempre misto de DJ e Designer, não vende o produto mas suas potencialidades de uso e criação) . Tal previsão cria para aqueles que tiverem conhecimento, mesmo que mínimo, das vanguardas artísticas do século XX uma sensação de familiaridade e pavor já que as propostas de emancipação e utopia foram invertidas e incorporadas à lógica capitalista. O potencial disruptivo de tais vanguarda foram transformadas em glamour e novas tendências disponíveis para todos os setores do consumo .

Se a crítica aos moldes clássicos e todo um fazer estético que antes era questionador se mostra inócuo, a simples indiferença também não se mostra um caminho (como algumas críticas querem nos fazer crer ser a única e apocalíptica alternativa) como se bastasse sentar e esperar ruir o mundo sob nossos pés.

Impossível não levar tais críticas para o interior do [conjunto vazio] já que procuramos desvincular estética da Arte,  buscando fugir da lógica de apreensão de um objeto ou evento como imediatamente artístico. Fugindo de lugares onde essa relação já se dá de imediato e tentando de fato usar “procedimentos artísticos” na cotidianidade. Mas qual a real efetividade de tal estratégia?

O problema está posto, resta saber se não estamos incorrendo aos mesmos erros que apontamos…  cabe então, não apenas reelaborar questões e críticas, mas a possibilidade de criar uma nova práxis que se faz no cotidiano para além da Arte, da especulação vazia e da aceitação de grupo.

verbete #6: [arte como ideologia]

In vocabulário de palavras em desuso on junho 8, 2010 at 21:52

Esse texto pretende relacionar arte, poder e ideologia partindo da constatação de que cada época deu um valor e uma conceitualização ao termo “Arte”. Se tal problema é abordado de uma maneira histórica e não metafísica, veremos que é só a partir de um período histórico que a Arte, semelhante a como conhecemos hoje, começa a exercer um enorme poder simbólico, servindo grande parte das vezes apenas como um instrumento das classes dominantes para a manutenção de seu status quo. Não se trata aqui de tentar retirar as potências e o valor de uma experiência estética, mas justamente estabelecer uma cisão entre o conceito de Arte e os objetos/eventos estéticos.
A fraude contida no conceito moderno de Arte começa em como ela foi tomada, como uma atividade universal e indissociável da condição humana. Parece incongruente que pinturas rupestres e manifestações de povos antigos sejam expostas e definidas por nossa sociedade ocidental como Arte. Tal afirmação demonstra que não é levado em consideração que tal atividade está inserida em um contexto muito especifico, são importantes rituais de fundo místico e social. Além disso, os objetos criados a partir desses rituais não ficavam expostos para a apreciação do público, não existindo uma separação de quem os cria daqueles que os observa. Essa experiência não estava separada da vida cotidiana.
Então, por qual razão nos nossos livros de História do colégio estão repletos de capítulos, fotos e escritos dedicados à chamada Arte dos ditos “povos primitivos”? Para responder a isso será necessário adentrar nas redes de poder presentes no cotidiano, já que a maioria meios de formação do indivíduo (principalmente a escola) existe para induzir habilidades e interesses que dependem muito dos valores, crenças e do caráter da vida “cultural” de uma sociedade. Nosso gosto passa a ser moldado pelo meio social em que vivemos e é através desse meio que se começa a instituir para o sujeito que tipo de Arte será valorizada. Mesmo as pessoas que afirmam não gostar ou entender de Arte costumam demonstrar interesse por música (emissoras de rádio e majors), cinema (blockbusters), arte dramática (novelas), dança (boates e danceterias), ficção (romances e best-sellers), mas tais interesses não são abarcadas pelo escopo do que seria considerado realmente Arte. Isso acontece pois a Arte se apresentaria como uma subcategoria dessas categorias mais genéricas, ou seja, a Arte não seria: cinema, pintura, teatro, música, etc., sendo considerada como algo superior e além. Parece óbvio que no exemplo citado ocorre uma clara diferenciação das percepções de valor. Se alguém diz que o livro que acabou de ler é uma obra de Arte, na verdade, está dizendo é que o livro lido tem mais valor que os outros, dos quais a classificação de Arte foi retirada.
Somente a partir do século XVII, com as mudanças sociais vigentes, é que começam a aparecer definições de Arte que se assemelham àquelas perpetuadas ainda hoje no senso-comum. Tais  definições aparecem socialmente localizadas na Europa, por uma burguesia incipiente que começava a invadir o espaço da aristocracia e a tomar valores dessa para si.
O conceito Arte como conhecemos hoje emerge na era industrializada, embora as produções culturais “de valor” tenham surgido anteriormente em um conceito aristocrata. A Arte seria uma invenção dessa aristocracia, mas ela não chegou a elaboração de uma  teorização e uma categorização. A burguesia não inventou a Arte, mas reinventou o conceito que gerou todo um novo vocabulário e um valor para se referir à Arte. É muito claro para os românticos que o artista era o depositário oficial da criatividade humana e da consciência. Apenas o artista possuía as paixões que a necessidade espiritual, um dia, forçaria a sociedade como um todo a adotar. Esse novo objetivo da Arte retrataria e glorificaria essa antiga ordem sócio-econômica que a burguesia havia ameaçado destruir por completo. Após as revoluções em que haviam conquistado seu posto privilegiado como classe dominantes os burgueses viam essa radicalidade como algo que poderia ser abandonada. Desse momento em diante, o desenvolvimento da Arte fica amarrado ao desenvolvimento da classe burguesa.
É possível observar mudanças concretas na Arte Moderna como, por exemplo, a reclassificação da literatura e da pintura como Arte, ao contrário do que ocorria até o século XVI. Ainda hoje o conceito de “Arte” vem sendo alargado para receber novas (e rentáveis) formas estéticas. Mesmo assim, é interessante notar que o valor metafísico atribuído à Arte ainda não desapareceu, funcionando de modo semelhante ao das religiões, já que, assim como o objeto religioso necessita da fé para tornar-se sacro, também um objeto “artístisco” necessita de uma crença estética para que seja visto como arte.

Tendo adotado uma perspectiva materialista e antiessencialista da Arte, é preciso atentar-se sobre os dois únicos pontos em comum que agruparia objetos sobre a categorização de Arte: serem tratadas e recebidas como tal. Em outras palavras, obras de Arte são qualquer coisa que aqueles em posição de poder cultural afirmem que seja Arte. Este poder está representado pelas instituições de Arte, críticos, estetas, teóricos e todo um sistema de poder que os legitima, são mantidos por essa validação e trabalham juntos para definir o que é tratado como Arte e, principalmente, o que não é (ou o que não é considerada “Alta Arte”).  A Arte seria definida a partir da circunscrição de suas condições de produção e apresentação, aquilo que no teatro, por exemplo, atores, diretores e dramaturgos apresentam é Arte, e é Arte porque é apresentado no quadro do mundo do teatro, uma argumentação propositadamente circular. O produto artístico é elaborado e recebido pelo “mundo da Arte”, no qual somente especialistas (essas redes de legitimação já citadas) e um grupo de iniciados tem acesso.
A chamada cultura popular perde sua amplitude e a capacidade de manifestação, já que a camada dominante acaba por desmerecer e diminuir as manifestações culturais, estéticas e criativas das classes populares. Se cultura é só o que está nos museus, teatros e outros espaços especializados, rapidamente decorre-se que as classes populares não possuem cultura. Portanto, a Arte passa a ser antes de tudo um fator de coesão social, mas também de produção de capital tanto monetário como simbólico. Números aproximados revelam que o mercado de Arte movimenta cerca de US$ 30 a 40 bilhões ao ano, sendo um dos maiores setores de geração de recursos. Portanto, a questão de um poder econômico relacionado ao que é produzido, consumido e legitimado como Arte não pode ser desconsiderado.
O conhecimento do mundo da Arte está intimamente relacionado à hierarquia social e não possuir tal conhecimento significa ser excluído dos grupos que detêm poder e status. Assim a Arte não passaria de um grande jogo para vender um estilo de vida como algo superior e elevado, então parece óbvio por qual razão  ela se apresenta como a mercadoria ideal. Não é estranho que se queira oferece-la a todos com tanto empenho…

Movimentos LGBT: Crítica e Análise

In blog on abril 18, 2010 at 10:43

Cerca de dois séculos se passaram desde o surgimento do que Michel Foucault chama de “dispositivo da sexualidade”. A partir de então, diz o filósofo, os indivíduos passaram a ser qualificados e taxados por normas pedagógicas, médicas, jurídicas, científicas e morais, criadas a partir de um paradigma heterossexual. Dessa forma, o sexo extraconjugal e estéril passa a ser classificado não mais como uma subversão contra legem (infratora da aliança do casamento), mas como uma anomalia, ou seja, um desvio do padrão considerado saudável. Estava, então, estipulado o limite entre o normal e patológico, que guiaria toda a atuação da disciplina sobre os corpos. Os doentes deviam, desse modo, ser tratados e conduzidos em direção à normalidade pelas instâncias do poder disciplinar.

Nesse sentido, a sexualidade se tornava principal fator de subjetivação do indivíduo. O processo de constituição do sujeito passava a ser, assim, determinado por ela. Exemplo disso é a diferença do tratamento direcionado às práticas homossexuais antes e depois da origem do dispositivo. Anteriormente ao século XIX, a sodomia (termo dado pela época às relações homoafetivas) era tão-somente uma infração tipificada pelo antigo direito canônico ou civil, isto é, um crime em que o autor se posicionava como mero agente (um simples sujeito jurídico). No século XIX, entretanto, surge a figura moderna do homossexual. Para Foucault, o homossexual “torna-se uma personagem, uma história, uma infância, um caráter, uma forma de vida; também é morfologia, como uma anatomia discreta e, talvez, uma fisiologia misteriosa. Nada daquilo que ele é, no fim das contas, escapa à sua sexualidade. Ela está presente nele todo: subjacente a todas as suas condutas, (…) inscrita sem pudor na sua face, já que é um segredo que se trai sempre. É-lhe consubstancial, não como pecado habitual, mas como natureza singular”. Desse modo, conclui-se que enquanto o sodomita era um reincidente, o homossexual passa a ser uma espécie anormal. O indivíduo se constituía, com isso, a partir de sua sexualidade, inscrita e marcada em uma suposta “essência”.

Entrecruzadas a esses procedimentos de subjetivação, estão as chamadas práticas discursivas, surgidas e instituídas por meio de um fenômeno nomeado por Foucault de explosão ou proliferação dos discursos. De fato, o francês esclarece que a colocação do sexo em discurso não foi restringida, mas pelo contrário, incitada. As técnicas de poder e a vontade de saber, na verdade, empenharam-se no conhecimento das sexualidades polimorfas e no estabelecimento de uma ciência da sexualidade. As instituições passaram a estimular que o sexo fosse dito, explicita e detalhadamente. Nada mais conveniente para os mecanismos institucionais, uma vez que as definições dos padrões de normalidade só poderiam ser conhecidas se o sexo fosse estudado a fundo, interrogando os indivíduos a respeito de seus mais íntimos segredos – herança evidente da pastoral cristã e seus ritos de confissão. Além disso, o confessar participa de uma sistemática de reconhecimento subjetiva. Isto porque o indivíduo, ao confessar sua sexualidade, pensa-se enquanto sujeito, ou seja, torna-se um sujeito que se reconhece ao admitir sua “natureza”. Logo, a subjetivação do indivíduo pela sexualidade também perpassa as práticas de confissão.

É dentro deste contexto teórico que a atuação dos movimentos de defesa da comunidade LGBT pode se revelar problemática. Logicamente, é indiscutível que eles representam um importante papel social, posicionando-se, quase sempre, contrários à discriminação e à exclusão impingida aos homossexuais. Contudo, a institucionalização desses grupos em um corpo quase partidário faz com que seus membros colaborem para um efeito discursivo presente no pensamento de Foucault: a subjetivação pelo auto-reconhecimento. Quando alguém se ”filia” a uma organização dessa natureza, constitui-se sujeito a partir de sua sexualidade, ou seja, ”confessa” que é “homossexual”, sendo este fato o principal fator constitutivo de sua personalidade. Algo, convenhamos, muito conveniente às redes de poder, que se empenham na classificação e especificação dos indivíduos. O sujeito se torna uma espécie desviante do paradigma normativo. Aliás, outro ponto controverso relacionado ao movimento gay está justamente ligado a esse “paradigma normativo”. Os grupos de defesa dos homossexuais reivindicam, necessariamente, direitos civis de inspiração heteronormativa, como o casamento e a adoção de crianças. Essas reivindicações transparecem uma busca por um tipo de adequação ao padrão normal social heterossexual.

Tal empenho colabora com os procedimentos de docilização dos corpos e ”normalização das aberrações” que há séculos vêm sendo formulados e aplicados pelas instâncias do poder disciplinar. Como conseqüência, essa incessante luta por uma assimilação da heteronormatividade, torna os gays marionetes de uma campanha que apresenta interesses ocultos das parcelas privilegiadas da sociedade, e que não afasta o modelo de supremacia masculina heterossexual arraigado. Desse modo, os homossexuais são ”assimilados”, mas continuam sendo valorados de forma inferior àqueles que seguem o padrão normalizador (heterossexismo). Assim, em última instância, a campanha pelos direitos LGBT termina cooptada e controlada por setores de dominação como a mídia.

Além disso é notório uma forte questão mercadológica envolvendo o LGBT, como se a  partir da sexualidade todo um comércio se abrisse. Os homossexuais passam a ser vistos como consumidores de produtos, bens e serviços de lazer e entretenimento, conceituado teoricamente um novo  e lucrativo nicho de mercado.  Para citar um exemplo desse processo, pacotes e eventos ditos GLS,  aumentaram as vendas em 40% no setor de  Turismo no Brasil, sem contar boates e restaurantes destinados apenas ao público homoafetivo.  Tal “segmento” é visto por vários especialistas como o nicho de maior  potencial comercial da atualidade. Assim,  o movimento LGBT deixa de ser algo político para ser visto apenas como mais um segmento mercadológico, aquietando seu potencial de luta efetiva .

Não se quer dizer com tudo isso, absolutamente, que os homossexuais não devam reivindicar pelos seus direitos. Pelo contrário, isso deve ser feito. Porém, cabe pensar que nem todos os movimentos o fazem de maneira realmente subversiva. Lutar por igualdade sexual passa por fatores bem mais complexos do que a mera assimilação. O erro dos grupos de defesa da comunidade LGBT está, justamente, na crença de que os gays se adequarão ao modo de vida machista e heterossexual predominante na nossa sociedade. Com esse pensamento, o homossexual se rende ao rótulo de parte dominada e anômala dado pela disciplina àqueles que se desviem do paradigma. O indivíduo confessa, produz um discurso, torna-se sujeito pertencente a uma espécie e, a partir disso, é docilizado, domesticado para que depois seja ‘normalizado’ e disciplinado (práticas subjetivadoras e discursivas). Desse modo, o homossexual é assimilado. O movimento LGBT deve ser, antes de mais nada, uma resistência à violência e à marginalização imposta aos homossexuais por uma estrutura hierárquica e patrilinear. Mas há maneira de um grupo escapar dos efeitos do poder impostos pela disciplina? Para nós é evidentemente que sim. Agrupamentos horizontalmente, sem uma estrutura hierárquica forte, aliada a uma ausência de um critério de aceitação/composição (ainda que imposto de forma implícita), esquivam-se das redes de dominação. Neste sentido, dizer-se homossexual dentro de um conjunto sem líderes e ao mesmo composto por qualquer indivíduo de natureza subversiva; não sendo seqüestrado, dessa forma, por qualquer setor da sociedade com interesses financeiros, políticos e/ou midiáticos; deixa de ser um processo de subjetivação conveniente aos mecanismos institucionais, para ser uma resistência às práticas disciplinares

Carta Aberta: Sobre a Praia na Praça da Estação

In blog on janeiro 16, 2010 at 01:05

 

A ação nem aconteceu e já vemos uma celeuma se formando.  Vemos como ferramentas de divulgação pela internet espalham a notícia de forma extremamente eficiente e rápida, ao preço de muitas vezes modificarem e deturparem o sentido original. Notamos o desejo insistente da mídia para noticiar a ação como mais um evento cultural da cidade. Sinceramente não sabemos se é vantajoso o preço que se cobra por tal “divulgação”.

A idéia e a organização da praia se deram de uma forma muito simples e propositalmente anônima. O que parece ser notório é a constatação de algo que quase sempre acontece quando se tem uma adesão tão popular e espontâneo:  o fato de que sempre existe alguém pronto para aparelhar e cooptar o discurso.

Algo comum em passeatas, repletas de bandeiras que se levantam com o intuito de uniformizar um mesmo discurso : “todos aqui lutam pela mesma causa e respondem a um mesmo ideal”. Nesse processo, há a tomada de frente de alguns (sejam individuos ou partidos), que se auto-intitulam porta-vozes de algo que nem existe

É necessário tomar cuidado aqueles que participam espontaneamente do evento, estimulados por um desejo legítimo de aproveitar a praça de uma maneira lúdica,  sejam utilizados como massa de manobra para engrossar as fileiras de uma ideologia que nem sempre compactuam. Ao mesmo tempo, tomar a praia como um flashmob significa retirar todo o potencial subversivo da intervenção, já que tal tipo de manifestação já foi  absorvida por um sistema de publicidade e atualmente é a nova diversão da classe média semi-instruída.

A Praia da Praça da Estação não tem líderes, não tem partido, não precisa deles… muito menos esse integrante do coletivo [conjunto vazio] que vos fala pode determinar o que a praia é ou deixa de ser, simplesmente porque isso não me pertence e a intervenção nem mesmo aconteceu. Se posso dizer algo, digo que essa ação irá se concretizar e não precisa de nenhum discurso que a legitime, muito menos de vanguardas, sejam elas artísticas, políticas ou jornalísticas.

Engraçado, como não só o sistema vigente, mas como também as pessoas dispostas a aderir à ação, ainda cobram esse tipo de legitimação de um grupo organizado,  um significado, sendo que o significante que é a ação em si,  já é auto-suficiente.  Não é necessário nem explicitar que o objetivo é contrariar o decreto autoritário e sem sentido do prefeito Márcio Lacerda, ou promover uma nova utilização da cidade; essa ação simplesmente é e não se encerrará aqui.

Os discursos, as hierarquias, o tédio, a publicidade gratuita tudo isso se cala; pois faremos da cidade nossa novamente!

Panfleto: Sobre a luta anticapitalista

In blog on janeiro 12, 2010 at 16:47

A@s descontentes com a realidade;

Há um pouco mais de 10 anos os Dias de Ação Global foram inaugurados quando, atendendo aos chamados da Ação Global dos Povos, ativistas de diversas partes do mundo coordenavam protestos simultâneos em contraposição aos encontros dos gestores do capitalismo mundial (FMI, Banco Mundial, OMC, BID, etc.).


O mais famoso protesto desses dias foi o N30, esse sim de 10 anos atrás, também conhecido como a “Batalha de Seattle”. Cerca de 50 mil ativistas (entre sindicalistas, ecologistas radicais e anarquistas) simplesmente abortaram a chamada “rodada do milênio” da OMC (Organização Mundial do Comércio) que queria iniciar os anos 2000 negociando uma maior abertura do comércio mundial. Festas de rua, barricadas flamejantes, enfrentamento policial e as inovadoras táticas de comunicação via internet/celulares entre @s ativistas fizeram desse um dia vitorioso para o movimento anticapitalista mundial.

Este, porém, não foi o primeiro Dia de Ação Global (já havia acontecido o J18 em Londres e ainda em 1998 os protestos em Genebra), muito menos foi o último (tantos outros nos anos seguintes como o S26, A20, o G8 em Gênova, dentre outros). Tampouco as idéias, posturas e táticas ali utilizadas nasceram dentro desses Dias (@s autonomistas vinham agitando a Itália desde os anos 70 com suas greves selvagens e sabotagens, e os squatters alemães já usavam a tática Black Bloc nos anos 80) ou se acabaram com eles (a rebelião de Oaxaca em 2006 e a Grécia em chamas de 2008 comprovam isso).


No entanto nós, autônom@s, anticapitalistas, libertári@s, vivemos um momento agora em nossa realidade onde a paralisia é geral. E não adianta procurar justificativas que não existem. O mundo ainda continua sobre ataque constante do Capital e dos Estados, assassínios políticos diversos, super-exploração humana e animal e a destruição cada vez maior do nosso ecossistema em nome do lucro. E claro, a resistência não diminuiu, gritam @s squatters lutando pelos seus direitos na Holanda, @s manifestantes contra a COP15 na Dinamarca, as manifestações na Grécia e a juventude do “Fora Arruda” em Brasília.

O que parece ser notável é a grande miséria que se encontra no meio hardcore/punk, fato que fica visível justamente por ocorrer em um meio que se diz politizado e ativo, mas que atualmente limita todo seu potencial servindo apenas para organizar shows e reproduzir ainda mais o espetáculo da separação entre aqueles que atuam e aqueles que assistem. Não se trata aqui de dizer que o punk, o hardcore, o straight-edge, etc. são inúteis, mas que são ideologias e devem ser superadas para que continuem tendo poder crítico. Devemos descartar o que tem de mais superficial e aproveitar tudo aquilo que deve ser aproveitado.

Também não poderiamos esquecer da velha esquerda, patética e retrograda em seus valores, esperando eternamente que a revolução aconteça enquanto tiram o pó de velhas teorias sentados em suas reuniões burocraticas. Quase sempre estão mais preocupados em “catequizar” as pessoas,  além da notável falta de humor e desejo em seus discursos já empoeirados. A luta contra os poderes coercitivos é diária e deve negar heróis, vanguardas e o tédio.

O que faremos então? Existem duas opções, nos deixarmos levar pela maré da história, ou organizamos um motim, tomarmos o barco e içarmos a bandeira preta, antes de afundá-lo.

A barricada só tem dois lados. Ou se está do lado de quem quer manter a ordem, ou do lado de quem a quer derrubar. Escolha o seu e mobilize-se AGORA!

Amig@s da Próxima Insurreição e [conjunto vazio]

Panfleto: DIA SEM COMPRAS 2009

In intervenção urbana on dezembro 23, 2009 at 22:28

Panfleto do Dia Sem Compras

Panfleto do Dia Sem Compras

DIA SEM COMPRAS: SEUS DESEJOS ESTÃO À VENDA

A crítica à sociedade de consumo não é motivada porque consumimos demais, mas porque consumir virou a única coisa que nos é permitido. Somos sempre levados a viver o capitalismo da forma que ele é vendido, mas o que aconteceria se acreditássemos mesmo na publicidade? Se de fato “vivêssemos o agora” como mandam as propagandas? Os bancos não existiriam, as ruas amanheceriam com as pessoas cantando e dançando ao redor dos carros pegando fogo. Não sobrariam outdoors, propagandas, publicidade. Não haveriam mais empregos e nem dinheiro.

“Aproveite o minuto”, “Faça algo novo”, “Tudo o que você gosta muito, diariamente”, “Toda hora é hora de aproveitar”, “Leve a vida do melhor jeito que você puder”, todo um mundo de possibilidades fornecidos por juros baixos ao mês. Estamos intoxicados pelo espetáculo, aceitando sacrifícios diários à espera de uma vida futura que não chegará. Hoje, dia 24 de Dezembro, vocês celebram o natal consumindo e perdendo suas vidas achando que comprar é a única forma de demonstrar qualquer tipo de afetividade e de envolvimento com o outro.

Cuidado com o que desejam nobres consumidores,  isso ainda se voltará contra vocês!

[conjunto vazio] e Amig@s da Próxima Insurreição

Dia Sem Compras # 2007

In intervenção urbana on dezembro 5, 2009 at 21:32

Dezembro é um mês importante graças a uma data comemorativa muito especial: o “dia sem compras”. Um dia no qual pessoas do mundo inteiro realizam ações contra o capitalismo aproveitando a potlach estúpida do natal.

Para saber mais sobre as movimentações do Dia Sem Compras: diasemcompras.wordpress.com ou www.buynothingday.co.uk

Abaixo a intervenção urbana realizada no dia 24 de dezembro de 2007 pelo [conjunto vazio]. 

1. Na madrugada do dia 23 para o dia 24 de dezembro,domingo para segunda, o coletivo foi a 4 lugares (já previamente escolhidos no centro de Belo Horizonte: o antigo Bahia shopping na rua da Bahia, a agência do Banco do Brasil,loja C&A e a entrada do shopping Cidade) e nas portas desses estabelecimentos foram colocados fitas de isolamento (amarela com listras pretas), antes desses locais abrirem.

2. Na manhã do dia 24 de dezembro, segunda-feira,o coletivo distribuiu paralelepipedos de rua (já previamente coletados, somando 180 pedras) e embalados com panfletos e amarrados com fita de presente. Colocados dentro de um carrinho de compra esses “presentes” foram distribuidos na frente dos estabelecimentos comerciais do centro da cidade, ao serem entregues era dito as pessoas: “Feliz Natal, tome seu vale brinde, desconto em todas as lojas…é só pegar e usar”, “pegue seu cartão de crédito”, “felicidades”, etc.

 As pessoas nas ruas se amontoavam em volta do carrinho querendo ganhar o souvenir.

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DIA SEM COMPRAS COMPRE MENOS! VIVA MAIS!

Se, por acaso, um extraterrestre desembarcasse na Terra em algum dos dias que antecedem a noite de natal, seguramente o que lhe chamaria a atenção, pela intensidade, não seriam o amor, a paz, a solidariedade, mas sim a euforia desesperada com a qual compramos coisas nessa época, e como submetemos cinicamente todos aqueles sentimentos positivos ao ato de consumir. E o espantoso não é que falemos de amor quando na verdade queremos trocar mercadorias, mas que nós submetemos tudo, passamos por todas as dificuldades, proporcionamos os maiores sofrimentos, com o objetivo de preservar o consumo de coisas.

Os aspectos que constituem a sociedade capitalista e a forma de vida que ela nos impõe, que inevitavelmente somos impelidos a construir, parecem irremediáveis: a desigualdade social que deve ser necessariamente preservada para o pleno funcionamento do sistema; o modo como as empresas (sobretudo as multinacionais) passam por cima de qualquer limite ético para alcançar maiores lucros (trabalho semi-escravo e infantil, venda de alimentos cancerígenos, degradação do meio ambiente, …) e o modo como até os nossos sonhos são moldados. É especialmente no natal que as pessoas acreditam que, ao comprarem objetos caros, são beneficiadas na medida em que se alcança um certo sentimento de superioridade frente aos seus próximos. Somos colocados – por nós mesmos – nas piores situações para consumir: fazemos dívidas absurdas que nos deixam estressados e nos obrigam a trabalhar mais; compramos toda espécie de “bugigangas” que nos oferecem – cujo tempo de uso é limitado pela próxima oferta; passamos o dia com pessoas que eventualmente não são aquelas que gostaríamos que estivessem nos acompanhando, ao menos naquele momento ou daquela forma mediada por objetos.

É porque acreditam que existem infinitas formas possíveis de se relacionar com o mundo e com as pessoas que o habitam, por meio de uma lógica externa à capitalista e consumista, que pessoas de vários países organizam o DIA SEM COMPRAS. Abandonar completamente o modo de vida capitalista pode parecer inicialmente impossível, porém, existem formas de construir experiências alternativas ao modo dominante no dia-a-dia. Por exemplo, no lugar dos rituais criados apenas para aumentar o consumo, pode-se partir para a invenção de rituais próprios junto à família, amigos ou vizinhos, reuniões que de fato propiciem a relação com o próximo. Sabemos perfeitamente da impotência política que recai sobre nós. Mas, no lugar de simplesmente reconhecê-la e aceitá-la passivamente, defendemos como ponto de partida uma reflexão crítica em relação à realidade – que, em meio à alienação generalizada, pode ser considerada poderosa.

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